Universitários ocupam campus da UFMA |
“Como podemos
em três anos de curso, sair habilitado para trabalhar em sete áreas de
conhecimento, sendo que duas dessas áreas os alunos nunca tiveram e pelo visto não
terão?”, indaga a universitária Nayhara Cinthya Soares, de 26 anos.
Nayhara, que cursa o 4º período do curso de
Linguagens e Códigos, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), campus de São
Bernardo a 370 km de São Luís, reclama do tempo de duração da sua licenciatura e
da supressão das disciplinas Libras e Música, que, de acordo com a aluna
deveria fazer parte de todos os períodos do curso. Entretanto, segundo ela,
mesmo tendo passado mais da metade da licenciatura, as disciplinas nunca foram
lecionadas.
A opinião da universitária é um dos motivos pelos quais, os alunos da
UFMA, campus de São Bernardo, ocupam desde a última quarta-feira (9), as
dependências do prédio da instituição.
A ocupação é parte das manifestações dos discentes que, desde a semana
passada, deixaram de freqüentar as aulas e ameaçam entrar em greve caso suas
reivindicações não sejam atendidas pela reitoria da UFMA. As principais
reivindicações dos estudantes estão centradas na aprovação do Projeto Político
Pedagógico (PPP).
A pauta de reivindicações tem ainda como pontos, a contratação de mais
professores, melhorias no acervo da biblioteca da universidade, funcionamento
dos laboratórios e internet e a garantia de que a segunda licenciatura,
prevista no PPP, seja presencial em pelo menos uma disciplina de cada curso.
De acordo com o presidente do Diretório Acadêmico (DA) da UFMA de São
Bernardo, Teonilson Moreno, os estudantes só deixarão a sede do campus, quando
suas reivindicações forem atendidas.
Moreno, que também é o coordenador do comando da manifestação, disse que
os universitários se revezam na ocupação do campus, formando duas equipes. Uma
fica responsável pela tarde e outra pela parte da noite.
Atualmente o campus de São Bernardo oferece três licenciaturas
interdisciplinares: Ciências Humanas (abrangendo História, Geografia, Filosofia
e Sociologia), Ciências Naturais (Matemática, Química, Física e Biologia) e Linguagens
e Códigos (Português, Artes, Inglês, Espanhol, Música e Informática).
O estudante Helilton Belfort, de 32 anos, está no 3º período do curso de
Ciências Naturais. Para ele, a principal dificuldade estar relacionada ao não
funcionamento do laboratório, o que facilitaria em muito um melhor aprendizado
dos assuntos abordados no decorrer do curso.
“Para se estudar ciência é de vital importância que tenhamos um
laboratório, onde poderemos aprender na prática o que vemos teoricamente na
sala de aula. Não tem sentido um curso de Ciências Naturais se não há
laboratórios para praticarmos ciência”, reclama ele.
Seminários
O Projeto Político
Pedagógico inicial previa uma formação de três anos, onde o aluno estaria apto
para ministrar aulas nas séries finais do ensino fundamental, e uma segunda
licenciatura de um ano para dar aulas também no ensino médio. No entanto foram
detectadas várias deficiências no projeto, entre elas a falta de uma grade
curricular mínima, incoerências em relação à LDB, critérios mal definidos para
avaliação dos alunos.
De acordo com os
manifestantes, uma vez tomada a consciência por parte do corpo docente dos
campi do interior das irregularidades no PPP, os professores teriam levado a Pró-Reitoria
de Ensino (Proen) a convocar e realizar o
Primeiro Seminário de Acompanhamento Das Licenciaturas Interdisciplinares, que
aconteceu na cidade de Codó, nos dias 26 e 27 de março.
Neste primeiro seminário, teriam sido criadas comissões para refazer o
PPP e acertar questões básicas como a inclusão das notas dos alunos no sistema
da UFMA e criação de grades curriculares para os cursos.
Entretanto, segundo
eles, no Segundo Seminário que ocorreu em Bacabal, nos dias 3 e 4 de maio, a
pró-reitoria da UFMA teria conseguido com que o corpo docente tornasse inválida
a carta com as alterações do PPP, aprovada em Codó.
No seminário de Bacabal, a Proen teria mantido a proposta inicial de
duração dos cursos, que é de formação interdisciplinar de três anos e uma
segunda licenciatura de um ano com formação específica em uma disciplina. Os
alunos de São Bernardo defendem um curso disciplinar de quatro anos com ênfase
em uma disciplina, idéia que teria sido debatida e aprovada pelo corpo docente
em Codó.
Na ocasião do seminário de Bacabal, um grupo de 35 estudantes teria ido
a Bacabal para protestar contra a proposta da Pró-Reitoria. Mesmo assim, a
idéia foi aprovada.
Na última segunda-feira (7), os alunos foram ao Campus vestidos de
preto. Em forma de protesto, eles utilizaram as faixas que haviam levado para
Bacabal e realizaram um enterro simbólico da educação prestada pela UFMA. Nesse
mesmo dia os alunos resolveram manter a paralisação e acenar para a
possibilidade de greve caso a UFMA não dialogue para atender suas
reivindicações.
UFMA
A pró-reitora de ensino Sônia Almeida, informou a O Imparcial que
desconhece as causas apresentadas pelos estudantes de São Bernardo para
justificar a greve. De acordo com Sônia, os dois seminários foram realizados em
menos de dois meses para que se pudesse dar uma resposta rápida às necessidades
dos campi do interior.
Ela disse ainda que as alterações no Projeto Político Pedagógico foram realizadas com a
plena aprovação do corpo docente e que representantes dos universitários, de
todos os campi do interior puderam também participar da discussão.
“Nessas reuniões realizados em Codó e Bacabal, trabalhamos na reescrita
do Projeto Político Pedagógico. Uma
proposta inovadora que está sendo construída com a participação dos professores
e representantes do corpo discente. Dessa forma, não existe justificativa
institucional para esse movimento em São Bernardo”, relatou a pró-reitora.
Sobre a reclamação dos
alunos sobre o não funcionamento de laboratórios no campus de São Bernardo,
Sônia Almeida informou que estão todos em funcionamento, além de estarem também
passando continuamente por melhorias.
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