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Lília e Raissa mostram suas coleções de canetas |
Encontramos duas pessoas com essa “mania” e fomos atrás de
explicações para essa prática. A secretária Lilia Penha, de 29 anos diz que
começou a colecionar canetas logo no início da vida escolar, aos 7 anos de
idade. No início era apenas um gosto especial pelo objeto da lista de material
escolar, “coisa de criança”, como ela mesma define.
Entretanto,
com o tempo, o gosto foi virando mania de colecionar e hoje a secretária se
define como uma “obsessiva” por canetas. Ela revela que, mesmo tendo dois
estojos cheios dos objetos, sempre quer comprar mais e que, muitas das que
possui, sequer chegou a usar.
“Já
tenho quase 100 canetas, e isso porque algumas já usei e, lógico a tinta acabou,
senão teria bem mais. Mesmo assim, sempre tenho vontade de comprar mais e
realmente compro. Deixo um estojo com mais de 50 em casa, das quais, muitas nem
uso, e o outro estojo levo comigo”, relata.
Lilia
conta que, atualmente, uma de suas “tentações” são as canetas vendidas nos
ônibus por representantes de uma instituição que cuida de dependentes químicos.
Mesmo já tendo adquirido uma dessas canetas, a secretária diz que a vontade de
comprar continua.
“Na
semana passada, já estava quase descendo do ônibus, quando um vendedor entrou e
anunciou as canetas. Tentei encontrar dinheiro trocado para comprar. Como não
tinha e já tinha que descer, fiquei frustrada porque não adquiri uma daquelas
canetas”, revela.
Compulsiva
e perfeccionista
A
estudante Raissa Tauany, de 21 anos, também se define como uma consumidora
compulsiva de canetas. Ela conta que, tudo começou no tempo de ensino
fundamental, quando por gostar de fazer suas anotações escolares de uma forma
organizada e de fácil entendimento, teria começado a juntar uma diversidade de
canetas e demais materiais escolares. O gosto foi ficando maior em relação às
canetas e quando percebeu, estava comprando mais do que precisava.
“A
maioria das mulheres quando vêem um sapato ou uma bolsa, mesmo sendo cara, ficam
satisfeitas apenas quando adquirem. No meu caso, isso acontece com canetas. Já
cheguei a gastar mais de R$ 10 reais de uma só vez. Gosto muito de canetas da
marca Stabilo, porque considero as melhores, entretanto são também as mais
caras. O menor valor dessa marca é R$ 3”, relata.
Raissa
revela também que tem um gosto especial pelas canetas de pontas mais fina,
porque segundo ela, as de ponta grossa deixam a escrita feia. “Coisa de
perfeccionista”, completa.
Palavra
da especialista
A
psicóloga Lucilene Castro explica que a “mania” de Lilia e Raissa, pode estar
relacionada ao que a psicologia define como Transtorno Obsessivo Compulsivo
(TOC), que é explicado cientificamente como um distúrbio psiquiátrico de
ansiedade e
que
se caracteriza pela presença de crises recorrentes de obsessões e
compulsões. Nesse caso, seria
um TOC por colecionismo.
A
médica afirma que a prática de colecionar não é algo errado e nem tampouco uma
doença. Porém, quando esse colecionismo passa a prejudicar o dia-a-dia da
pessoa, interferir nas atividades diárias, pode ser definido como um transtorno.
Ela revela, entretanto, que o indivíduo que apresenta esse tipo de transtorno
normalmente não se dá conta disso, porque associa a prática ao ato simples de
colecionar ou a um hobby sem maiores conseqüências.
De
acordo com a psicóloga, pode-se perceber que o colecionismo deixa de ser uma
prática não prejudicial, a partir do momento em que o prazer que a pessoa sente
ao adquirir uma peça da coleção começa a ser buscado com intensidade e como uma
necessidade exagerada. A partir disso, segundo ela, o indivíduo deixa de ser um
colecionador comum e torna-se um obsessivo por determinado objeto, levando-o a
adquirir muitas peças, na maioria das vezes sem necessidade usual e que vão se
acumulando.
“Os
comportamentos compulsivos buscam alívios para tensões emocionais, gerando uma
satisfação passageira, que leva a sentir uma vontade de repetir a prática. Isso
acaba gerando uma perda de tempo e atrapalhando o cotidiano do indivíduo. E
quando a pessoa perde cerca de uma hora preocupada com isso, voltada para essa
questão, significa que ela precisa de ajuda médica, mais especificamente de
ajuda terapêutica, uma vez que não se recomenda tratamento por meio de
medicamento”, explica.
Lucilene
Castro ressalta ainda que, como as pessoas que apresentam esse tipo de
transtorno, normalmente não percebem que são compulsivas, elas também não
procuram ajuda, cabendo esse papel a amigos ou familiares que convivem com
elas.
“Os
TOCs desse e de outros tipos são mais comuns do que se supõe. Para se ter uma
idéia, no Brasil hoje, de cada 40 pessoas, uma tem algum tipo de TOC. O que não
é comum é o portador aceitar que isso é um problema. Pelo contrário, eles
entendem isso como uma coisa extremamente prazerosa e por isso não ver a
necessidade de procurar um tratamento”, completa.
A
médica explica ainda que não há uma causa específica para que uma pessoa venha a
adquirir um tipo de TOC, entretanto, normalmente ele está relacionado a
histórico familar, ao ambiente em que vive. Ela frisa também que o
perfeccionismo é uma característica própria do portador do transtorno, assim
como a ansiedade, e que a busca por realizar a prática compulsiva é uma forma de
alimentar a mania por perfeição ou de amenizar a ansiedade.
Para
finalizar, a psicóloga alerta para a interferência de familiares e amigos no
problema. Ela lembra que a ajuda que se pode oferecer a quem tem algum tipo de
TOC é conversar e até convencê-lo a procurar ajuda. Porém, no caso específico do
transtorno por colecionismo, a interferência não deve ser no sentido de se
desfazer dos objetos, pois isso pode piorar o problema, gerando traumas para o
portador ou até mesmo, ocasionando reações depressivas e agressivas.
5 comentários:
Só para esclarecer, Lucilene Castro é Psicóloga e não Médica. E quanto ao uso de medicação nos casos de TOC, na verdade ele é sim utilizado porém, não é uma atribuição do Psicólogo. Quando há a necessidade do uso de medicação o paciente é encaminhado para um Médico Psiquiatra, que é o responsável pela prescrição e orientação quanto ao uso desses medicamentos.
Só complementando a informação da Lucilene, é importante ao perceber esse tipo de comportamento procurar o profissional da psicologia!! Pois dependendo da triagem feita, pode ser que nem precise buscar um ajuda psiquiatrica!! A própria terapia diminua essa comulsão :D
Muito esclarecedor o texto!Parabéns! Realmente o atendimento psicológico é bastante eficaz nesses casos! Como a Lucilene falou, a partir do momento que esses comportamentos passam a atrapalhar suas atividades diárias é importante procurar ajuda especializada.Vale a pena!
Concordando com Sarah, bem esclarecedor Lucilene, adorei, em momentos oportunos como esse é ótimo poder compartilhar essas informações com outras pessoas.
(Dica)É interessante ressaltar certa “falta de atenção” por parte de quem escreveu sobre o assunto. Entender também um pouco do trabalho de um Psicólogo e de um Médico é fundamental para escrever sobre o tema.
Muito bem explicado Lucilene, simples e objetivo, como deve ser trabalhado todos os temas dessa importância. Nem a falta de conhecimento ou falta de atenção da parte do escritor conseguiu apagar o brilho do seu preparo ao responder as duvidas mais frequentes sobre o assunto. Parabéns!
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