terça-feira, 8 de maio de 2012

As colecionadoras de canetas: Simples hobby ou obsessão compulsiva?

Lília e Raissa mostram suas coleções de canetas
Hobby, transtorno compulsivo ou simples colecionismo? A final de contas, o que leva uma pessoa a juntar quase 100 canetas em casa e diariamente ainda querer comprar mais e mais?

Encontramos duas pessoas com essa “mania” e fomos atrás de explicações para essa prática. A secretária Lilia Penha, de 29 anos diz que começou a colecionar canetas logo no início da vida escolar, aos 7 anos de idade. No início era apenas um gosto especial pelo objeto da lista de material escolar, “coisa de criança”, como ela mesma define.

Entretanto, com o tempo, o gosto foi virando mania de colecionar e hoje a secretária se define como uma “obsessiva” por canetas. Ela revela que, mesmo tendo dois estojos cheios dos objetos, sempre quer comprar mais e que, muitas das que possui, sequer chegou a usar.

“Já tenho quase 100 canetas, e isso porque algumas já usei e, lógico a tinta acabou, senão teria bem mais. Mesmo assim, sempre tenho vontade de comprar mais e realmente compro. Deixo um estojo com mais de 50 em casa, das quais, muitas nem uso, e o outro estojo levo comigo”, relata.

Lilia conta que, atualmente, uma de suas “tentações” são as canetas vendidas nos ônibus por representantes de uma instituição que cuida de dependentes químicos. Mesmo já tendo adquirido uma dessas canetas, a secretária diz que a vontade de comprar continua.

“Na semana passada, já estava quase descendo do ônibus, quando um vendedor entrou e anunciou as canetas. Tentei encontrar dinheiro trocado para comprar. Como não tinha e já tinha que descer, fiquei frustrada porque não adquiri uma daquelas canetas”, revela.

Compulsiva e perfeccionista

A estudante Raissa Tauany, de 21 anos, também se define como uma consumidora compulsiva de canetas. Ela conta que, tudo começou no tempo de ensino fundamental, quando por gostar de fazer suas anotações escolares de uma forma organizada e de fácil entendimento, teria começado a juntar uma diversidade de canetas e demais materiais escolares. O gosto foi ficando maior em relação às canetas e quando percebeu, estava comprando mais do que precisava.

“A maioria das mulheres quando vêem um sapato ou uma bolsa, mesmo sendo cara, ficam satisfeitas apenas quando adquirem. No meu caso, isso acontece com canetas. Já cheguei a gastar mais de R$ 10 reais de uma só vez. Gosto muito de canetas da marca Stabilo, porque considero as melhores, entretanto são também as mais caras. O menor valor dessa marca é R$ 3”, relata.

Raissa revela também que tem um gosto especial pelas canetas de pontas mais fina, porque segundo ela, as de ponta grossa deixam a escrita feia. “Coisa de perfeccionista”, completa.

Palavra da especialista

A psicóloga Lucilene Castro explica que a “mania” de Lilia e Raissa, pode estar relacionada ao que a psicologia define como Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), que é explicado cientificamente como um distúrbio psiquiátrico de ansiedade e que se caracteriza pela presença de crises recorrentes de obsessões e compulsões. Nesse caso, seria um TOC por colecionismo.

A médica afirma que a prática de colecionar não é algo errado e nem tampouco uma doença. Porém, quando esse colecionismo passa a prejudicar o dia-a-dia da pessoa, interferir nas atividades diárias, pode ser definido como um transtorno. Ela revela, entretanto, que o indivíduo que apresenta esse tipo de transtorno normalmente não se dá conta disso, porque associa a prática ao ato simples de colecionar ou a um hobby sem maiores conseqüências.

De acordo com a psicóloga, pode-se perceber que o colecionismo deixa de ser uma prática não prejudicial, a partir do momento em que o prazer que a pessoa sente ao adquirir uma peça da coleção começa a ser buscado com intensidade e como uma necessidade exagerada. A partir disso, segundo ela, o indivíduo deixa de ser um colecionador comum e torna-se um obsessivo por determinado objeto, levando-o a adquirir muitas peças, na maioria das vezes sem necessidade usual e que vão se acumulando.

“Os comportamentos compulsivos buscam alívios para tensões emocionais, gerando uma satisfação passageira, que leva a sentir uma vontade de repetir a prática. Isso acaba gerando uma perda de tempo e atrapalhando o cotidiano do indivíduo. E quando a pessoa perde cerca de uma hora preocupada com isso, voltada para essa questão, significa que ela precisa de ajuda médica, mais especificamente de ajuda terapêutica, uma vez que não se recomenda tratamento por meio de medicamento”, explica.

Lucilene Castro ressalta ainda que, como as pessoas que apresentam esse tipo de transtorno, normalmente não percebem que são compulsivas, elas também não procuram ajuda, cabendo esse papel a amigos ou familiares que convivem com elas.

“Os TOCs desse e de outros tipos são mais comuns do que se supõe. Para se ter uma idéia, no Brasil hoje, de cada 40 pessoas, uma tem algum tipo de TOC. O que não é comum é o portador aceitar que isso é um problema. Pelo contrário, eles entendem isso como uma coisa extremamente prazerosa e por isso não ver a necessidade de procurar um tratamento”, completa.

A médica explica ainda que não há uma causa específica para que uma pessoa venha a adquirir um tipo de TOC, entretanto, normalmente ele está relacionado a histórico familar, ao ambiente em que vive. Ela frisa também que o perfeccionismo é uma característica própria do portador do transtorno, assim como a ansiedade, e que a busca por realizar a prática compulsiva é uma forma de alimentar a mania por perfeição ou de amenizar a ansiedade.

Para finalizar, a psicóloga alerta para a interferência de familiares e amigos no problema. Ela lembra que a ajuda que se pode oferecer a quem tem algum tipo de TOC é conversar e até convencê-lo a procurar ajuda. Porém, no caso específico do transtorno por colecionismo, a interferência não deve ser no sentido de se desfazer dos objetos, pois isso pode piorar o problema, gerando traumas para o portador ou até mesmo, ocasionando reações depressivas e agressivas.

5 comentários:

Lucilene Castro disse...

Só para esclarecer, Lucilene Castro é Psicóloga e não Médica. E quanto ao uso de medicação nos casos de TOC, na verdade ele é sim utilizado porém, não é uma atribuição do Psicólogo. Quando há a necessidade do uso de medicação o paciente é encaminhado para um Médico Psiquiatra, que é o responsável pela prescrição e orientação quanto ao uso desses medicamentos.

ROZANA LIMA disse...

Só complementando a informação da Lucilene, é importante ao perceber esse tipo de comportamento procurar o profissional da psicologia!! Pois dependendo da triagem feita, pode ser que nem precise buscar um ajuda psiquiatrica!! A própria terapia diminua essa comulsão :D

Sarah M Kurz disse...

Muito esclarecedor o texto!Parabéns! Realmente o atendimento psicológico é bastante eficaz nesses casos! Como a Lucilene falou, a partir do momento que esses comportamentos passam a atrapalhar suas atividades diárias é importante procurar ajuda especializada.Vale a pena!

Aline Mafra disse...

Concordando com Sarah, bem esclarecedor Lucilene, adorei, em momentos oportunos como esse é ótimo poder compartilhar essas informações com outras pessoas.
(Dica)É interessante ressaltar certa “falta de atenção” por parte de quem escreveu sobre o assunto. Entender também um pouco do trabalho de um Psicólogo e de um Médico é fundamental para escrever sobre o tema.

Taita Polyana Pinto disse...

Muito bem explicado Lucilene, simples e objetivo, como deve ser trabalhado todos os temas dessa importância. Nem a falta de conhecimento ou falta de atenção da parte do escritor conseguiu apagar o brilho do seu preparo ao responder as duvidas mais frequentes sobre o assunto. Parabéns!

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