segunda-feira, 19 de abril de 2010

Ônibus da zona rural viram feiras sobre quatro rodas


Quem viaja nos ônibus das linhas Estiva, Coqueiro e Maracanã, que transportam a população de parte da zona rural de São Luis, convive com uma verdadeira feira sobre quatro rodas. Isso porque os moradores das comunidades atendidas pelas linhas transportam várias caixas de frutas, verduras e até peixes em suas viagens do bairro para o centro e vice-versa.

O funcionário público Patrick Pereira, de 29 anos, mora no bairro do Turu e trabalha em uma escola localizada na Estiva. Ele conta que se depara diariamente com a superlotação dos ônibus, causada não apenas pelo grande número de pessoas, mas principalmente, pela grande quantidade de volumes que os passageiros carregam nos veículos.

“É uma loucura viajar nesses ônibus. E o pior é que a maioria das pessoas é da Estiva mesmo, ou seja, elas só descem no ponto final, o que significa dizer que passamos a viagem inteira no sufoco de dividir o espaço do ônibus com um monte de caixas de frutas, verduras e até peixes”, reclama.

Patrick relata ainda que a situação piora quando o ônibus tem apenas duas portas, deixando apenas um local para os passageiros descerem.

“Na hora do desembarque é uma verdadeira ‘muvuca’. Na pressa de chegarem ao seu destino, as pessoas descem apertando-se umas nas outras, entre caixas e sacos de mercadorias. A reclamação é geral”, conta.

Para o pedreiro Flávio Augusto Lima, de 21 anos, morador do bairro Maracanã, as pessoas que, praticamente, “enchem” os ônibus de mercadorias, estão apenas tentando sobreviver, seja levando alguma coisa para vender em outros bairros ou mesmo trazendo as compras feitas em outras regiões da cidade.

“Se essas pessoas transportam caixas e sacola nos ônibus, é porque não têm alternativa. Elas têm que adquirir o pão de cada dia e para isso precisam transportar seus volumes na única forma de locomoção que dispõem”, defende ele.

Também morador do Maracanã, o servente Francisco Valdenir Nascimento, de 29 anos, cita a distância da zona rural para o centro da cidade como razão da superlotação dos ônibus, com mercadorias compradas pelos moradores. Ele explica que a maioria das mercadorias são compras que pais de família fazem no Mercado Central ou no João Paulo.

O despachante da empresa Santa Clara, responsável pela linha Maracanã, Francisco Carlos, de 40 anos, também sai em defesa dos passageiros que lotam os veículos de volumes. Ele ressalta que as pessoas que levam mercadorias nos ônibus são pessoas humildes que sobrevivem da venda de frutas como manga e juçara e precisam transportar as mercadorias dos bairros da Zona Rural ao centro.

“Essas pessoas não podem pagar frete de um carro para transportar suas mercadorias e se sujeitam a carregar caixas de frutas nos ônibus. A gente entende e não julga e nem reclama”, completou.

Na última sexta-feira, 16, embarcamos em um dos ônibus da linha Maracanã para observar de perto o problema da superlotação nos veículos causada pelo grande número de volumes.

Aos poucos, o coletivo foi enchendo. Bastou apenas 20 minutos de viagem do ponto final ao Terminal de Integração do Distrito Industrial, para que o ônibus ficasse superlotado de pessoas, sacos e caixas de mercadorias.


Empresa Santa Clara fala sobre o problema

A empresa Santa Clara é a responsável pelo transporte público nos bairros do Coqueiro, Estiva e Maracanã. O gerente geral da empresa, Claudionor Silva fala sobre a superlotação dos coletivos pelos volumes transportados pelos moradores da Zona Rural.

Claudionor explica que anteriormente os ônibus da empresa que fazem linha para comunidades da zona rural tinham porta-malas nas laterais. Os espaços eram reservados, exatamente para os passageiros transportar seus volumes a fim de não ocupar o espaço interno dos coletivos. Porém, segundo o gerente, por determinação do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) os porta-malas foram retirados.

“A retirada dos porta-malas foi determinada após a padronização dos veículos com três portas e elevadores de acessibilidade para cadeirantes, o que fez com que os ônibus perdessem espaço no lado direito. No lado esquerdo, o porta-malas também é proibido por ser o lado da pista, gerando riscos de acidentes quando estes forem abertos”, esclarece.

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